quinta-feira, 29 de março de 2007

Leituras

No passado dia 27 do mês de Março, eu e os meus colegas tivemos o privilégio de ser convidados ao lançamento do livro do nosso professor Pedro Moreira, no Casino Estoril.

De facto parece-me ser um livro bastante interessante, especialmente a todos aqueles que se dedicam, por devoção ou por dever, aos estudos das ciências empresariais.

Aqui deixo a referência bibliográfica aos interessados:
Liderança e Cultura de Rede em Portugal
Casos de Sucesso
MOREIRA, PEDRO SANTOS 2007
Colecção: Ciências Empresariais

Sobre a Obra:
Há vários anos que se sabe que o desenvolvimento empresarial dos países, depende sobretudo da flexibilidade e da capacidade das empresas trabalharem em rede. Ou seja, pequenas empresas trabalharem em conjunto para um fim comum, ou grandes empresas tornarem-se maiores ainda, até ao gigantismo. Aquilo que determina a capacidade de trabalhar em rede é fundamentalmente a confiança entre parceiros.
A capacidade de confiar é um valor cultural colectivo. Nos povos da Europa do Norte e anglo-saxónicos (de matriz protestante) e no Japão, existe uma forte confiança nas relações familiares, mas, também, uma natural confiança entre não aparentados e nas instituições do país. Isso permite descentralizar, delegar funções, estabelecer parcerias, etc. As sociedades chinesas e os povos do sul da Europa (de matriz católica), apresentam índices de forte confiança na família, mas não no resto, onde até, prevalece a desconfiança. Daí ficarem-se sobretudo pelas empresas familiares.
Como a cultura-base de um povo não se transforma de um momento para o outro (e a sua transformação implica factores de âmbito mais subjectivo), conclui-se que empresas com pouco “capital social” (sinónimo de “confiança”) estão condenadas ao subdesenvolvimento. Em Portugal como somos confiantes com a família, mas desconfiados e às vezes oportunistas com os outros, estamos condenados a empobrecer nesta era da globalização, em que a competitividade depende de cooperações sustentáveis em rede.
Mas, será mesmo assim? Segundo Pedro Moreira não. Ou pelo menos não totalmente. Aplicando um rigoroso estudo ao tecido empresarial português, focando a cooperação inter-organizacional e, em particular o desenvolvimento organizacional do tecido industrial português, constituído por Pequenas e Médias Empresas, o autor descobriu que nas empresas e associações entre empresas que haviam “sobrevivido”, havia um factor comum: um líder.
Com base na sua investigação o autor sugere que nas sociedades de fraco nível de confiança, como a nossa, é o “líder” e não a “confiança” que constitui o elemento federador, ultrapassando o papel de mero intermediário, de broker (ou de pivot), ou de “catalizador” de fluxos de informação, que assume frequentemente nas sociedades de elevado nível de confiança.
Pedro Moreira demonstra que a confiança frágil ou até a desconfiança entre pares de empresários (ou na mesma empresa) não é forçosamente inibidora da sustentabilidade da rede de per si, desde que exista uma confiança resiliente, vertical, no líder. É exemplo disso, casos de empresas que se tornam gigantes, à sombra de um líder fundador – embora essas empresas ou grupos sofram crises e até a sua dissolução com a morte do líder ou do filho deste (ao contrário dos exemplos nórdicos).
Se tal conclusão estiver correcta (e enquanto não se encontra “remédios” para a transformação da cultura), resta-nos segundo o autor um enorme desafio: criar e formar líderes com perfil adequado para gerir de forma eficaz organizações caracterizadas por uma cultura organizacional com baixo capital social.

Esta obra emerge na realização da sua tese de doutouramento.

Boa leitura ;)

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